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Subir para cima, entrar para dentro… Não faltam exemplos de pleonasmos da língua portuguesa que já viraram piada. Mas existem outras tantas expressões que embora não pareçam tão óbvias, são igualmente incorretas e vivem aparecendo em textos por aí.
Por isso, depois de falar sobre palavras e expressões que são usadas de maneira incorreta, seguimos nossa série de textos sobre dúvidas de português com alguns exemplos de pleonasmos ou redundâncias.
Na literatura, os pleonasmos são uma figura de linguagem utilizada de forma poética, como um reforço de estilo ou de semântica, para garantir mais expressividade ou ritmo à obra. Como não lembrar do “mar salgado” de Fernando Pessoa ou do “e rir meu riso” de Vinícius de Moraes?
Mas fora da literatura as coisas são diferentes. Os chamados pleonasmos viciosos ou redundâncias são vícios de linguagem, pois representam a repetição inútil de uma ideia. São erros bastante comuns, mas que comprometem a qualidade do texto.
Confira a seguir 10 exemplos de pleonasmos viciosos e dicas para evitá-los em seus textos.
1. CERTEZA ABSOLUTA
Errado: Você tem certeza absoluta disso?
Certo: Você tem certeza disso?
O Dicionário Aurélio define o substantivo certeza como “Qualidade do que é certo. Adesão absoluta e voluntária do espírito a um fato, a uma opinião. Ausência de dúvida”. Ou seja, uma certeza já é, por definição, absoluta.
2. BASEADO EM FATOS REAIS
Errado: O filme é baseado em fatos reais.
Certo: O filme é baseado em fatos./ O filme é baseado em histórias reais.
Quem nunca assistiu a um filme “baseado em fatos reais”? A expressão, embora bastante usada, é redundante. Afinal, todo fato é real.
3. PLANOS PARA OS FUTURO
Errado: Quais são os seus planos para o futuro?
Certo: Quais são os seus planos?
A menos que você seja um viajante do tempo, é impossível fazer planos para o passado ou para o presente. Planejamento diz respeito sempre a um conjunto de ações futuras. Você pode substituir a expressão “planos para o futuro” – que é redundante – pela indicação de um período específico como “planos para o ano que vem”, ou “planos para o fim de semana”. Ou usar apenas “planos”.
4. HÁ MUITO TEMPO ATRÁS
Errado: Isso já aconteceu há muito tempo atrás.
Certo: Isso já aconteceu há muito tempo./ Isso já aconteceu muito tempo atrás.
Se algo aconteceu “há muito tempo”, só pode ter sido “muito tempo atrás”, já que a forma “há” do verbo haver é usada para se referir ao tempo passado. Logo, a expressão “há muito tempo atrás” é redundante.
5. CRIAR NOVOS
Errado: Vamos criar 100 novos empregos na região.
Certo: Vamos criar 100 empregos na região.
Em tempos de eleição, por exemplo, é impossível não ouvir promessas de “criar novos empregos”. Mas você já viu alguém “criar velhos empregos”? O verbo criar implica em produzir algo que não existe, e portanto, novo. Por isso, neste caso, basta usar “criar empregos”.
6. MANTER O MESMO TIME
Errado: O treinador decidiu manter o mesmo time da última partida.
Certo: O treinador decidiu manter o time da última partida.
Da mesma forma que é impossível criar algo velho, também não se pode manter algo diferente. O verbo manter diz respeito a conservar determinada situação ou estado sem alterações. Dessa forma, a presença do adjetivo mesmo é desnecessária.
7. SURPRESA INESPERADA
Errado: A promoção foi uma surpresa inesperada para ela.
Certo: A promoção foi uma surpresa para ela.
Surpresa é, por definição, algo que causa espanto e admiração, justamente por ser um fato inesperado, não anunciado previamente; imprevisto. Uma surpresa esperada não é uma surpresa.
8. ELO DE LIGAÇÃO
Errado: Este projeto pode ser o elo de ligação entre os dois países.
Certo: Este projeto pode ser o elo entre os dois países.
Ligação é justamente um dos significados da palavra elo. Portanto, é redundante usar a expressão “elo de ligação”.
9. ENCARAR DE FRENTE
Errado: Você precisa encarar de frente os seus problemas.
Certo: Você precisa encarar seus problemas.
É possível encarar de costas ou de lado? Obviamente não. Encarar já significa “olhar de frente”. Ou seja, “encarar de frente” é uma expressão redundante e incorreta.
10. CONCLUSÃO FINAL
Errado: Aqui está a conclusão final do estudo.
Certo: Aqui está a conclusão do estudo.
Não existe conclusão inicial. A definição de conclusão, de acordo com o Dicionário Aurélio, é: “Ato de concluir. Fim. Desfecho. Ajuste definitivo”. Por isso, o uso da expressão conclusão final é mais um dos exemplos de pleonasmo vicioso da língua portuguesa.
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Gostou das nossas dicas? A próxima parte do guia será um assunto que sempre gera muitas dúvidas: o uso da crase. Até lá!
Aproveite também para conferir a parte 1 sobre palavras e expressões que são usadas de maneira errada e o texto que inspirou a série: Como não deixar passar erros de português nos seus conteúdos.
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