As agências de comunicação, em especial as assessorias de imprensa, enfrentam (e não é de hoje) uma questão delicada que envolve o interesse do cliente, os núcleos editoriais dos veículos de imprensa e os núcleos comerciais desses mesmos veículos. Sim, o assunto é mais do mesmo, quase clichê. O que sentimos, entretanto, é que os “boicotes” têm sido mais frequentes e isso afeta diretamente o trabalho do assessor.
Para quem é leigo no assunto, cabe uma nota de explicação rápida. Conteúdo editorial é toda notícia não paga da imprensa e é, basicamente, produzido e apurado por repórteres e muitas vezes pautado pelo trabalho de um assessor de imprensa. Conteúdos comerciais são informes e anúncios que são pagos e podem ter ou não a participação da assessoria de imprensa na produção do conteúdo. Nosso trabalho (como assessorias) inclui a comunicação interna e a divulgação para a imprensa, assim como a produção e a gestão de conteúdo de sites, blogs e redes sociais. Na maioria das vezes, os anúncios e informes publicitários são negociados via agência publicitária.
O que estamos percebendo com o passar dos anos é que, quando o veículo “x” não consegue um determinado anúncio e o veículo “y” consegue, o primeiro se sente desprestigiado e impõe restrições editoriais a respeito da empresa ou evento anunciado no concorrente. Ou seja, os jornalistas não podem publicar notícias a respeito daquele assunto ou empresa, mesmo que sejam de interesse público. Isso traz um impacto muito negativo no trabalho da assessoria de imprensa. Ao enfrentar os “boicotes”, os assessores e os jornalistas dos veículos se veem de mãos atadas com as determinações do núcleo comercial. O resultado desse posicionamento, enérgico, é que conteúdos de interesse social e com informações relevantes deixam de ser divulgados. E onde fica a responsabilidade editorial dos veículos? Vale lembrar que o papel do jornalismo é informar, levar a notícia para a sociedade.
Fazendo o contraponto, necessário, sabemos que os veículos dependem muito dos anunciantes e que isso contribui para a permanência de profissionais nas redações e também para a permanência do veículo no mercado. Uma alternativa, imediatista, é um encontro com as agências de comunicação e de publicidade para ponderar essas questões, de forma que os conteúdos institucionais e publicitários sejam trabalhados juntamente, de forma estratégica, sempre buscando resultados positivos para o cliente em questão.
O assessor de imprensa, no seu dia a dia, costuma receber de jornalistas solicitações de convites, ingressos, produtos ou serviços dos clientes. Sempre que possível disponibilizamos as cortesias, já que nosso interesse é divulgar a marca e fomentar o boca a boca. Porém, também acontece de não ser publicado linha alguma sobre o cliente (ou evento) nos dias seguintes, muitas vezes devido a orientações comerciais. Mas o assessor vai continuar ajudando (assessorando!) a imprensa, oferecendo as cortesias e fazendo convites, pois faz parte do trabalho de relacionamento e de apresentar o cliente e suas novidades e diferenciais aos jornalistas.
A reflexão que fica é: até que ponto é aceitável ou justa a imposição de cortes de informações por conta de questões comerciais? Até que ponto esses “boicotes” funcionam com os anunciantes? E até que ponto a sociedade pode ficar desinformada sobre um assunto de interesse público?
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