Construir uma sociedade humanizada, diversa, plural e inclusiva é uma missão que tem permeado a cultura das empresas. O mundo do trabalho não está alheio aos movimentos sociais e tem vivenciado novas práticas cotidianas nessa direção. Um exemplo para ilustrar essa realidade são os setores de Diversidade e Inclusão que vão ganhando espaço no cotidiano institucional. Além de formações e campanhas que incentivam boas práticas, essa realidade também avança nas estratégias de comunicação interna e marketing.
O canal de análises e tendências Think With Google publicou, recentemente, um texto que traz algumas reflexões sobre o tema, destacando o campo da linguagem na dimensão da inclusão – temática que vem ganhando muito debate nos últimos anos.
Por um ambiente de trabalho mais inclusivo
O texto “4 passos para criar uma linguagem mais inclusiva no ambiente de trabalho”, do The Precise Language Team at Google, reúne pequenas e interessantes dicas para que as práticas de inclusão não caiam no modismo ou, como se diz no jargão dos movimentos sociais, “não apenas colorir ou tematizar a sua logo, tornar a sua empresa inclusiva”.
Se as pessoas passam a maior parte do seu dia – e da sua vida – nos ambientes de trabalho, esses precisam ser cada vez mais diversos, plurais, inclusivos, equânimes e igualitários. Dessa forma, serão também inovadores e com alto potencial para reter talentos.
E olhando para esse universo, o artigo destaca um dado interessante publicado pela PwC sobre diversidade e inclusão nas organizações, que aponta que “76% das empresas citam a D&I como um valor ou prioridade, enquanto apenas 22% dos funcionários relatam estar cientes dos esforços relevantes sobre o tema em suas empresas”.
Ou seja: não basta dizer que faz, é preciso promover e fortalecer a cultura de diversidade e inclusão na empresa.
O texto nos apresenta quatro dicas para a prática de uma linguagem que promova diversidade, equidade e inclusão. Elas são simples, assim como deve ser o cotidiano de trabalho, e vão ao encontro dos debates e estudos sobre a temática. E como falamos em linguagem, a comunicação interna e o marketing da empresa devem estar atentos e oferecer subsídios necessários para que se estabeleça uma cultura organizacional inclusiva.
Linguagem e poder
A lista de dicas começa com um alerta urgente e necessário: entenda a relação entre linguagem e poder. Assim como a vida, a língua está em constante transformação. Basta recordarmos a última reforma da língua portuguesa. A linguagem também manifesta as relações de poder, cultivando ou derrubando estigmas e paradigmas históricos. A fala é uma poderosa forma de expressão. O ditado popular diz que palavras lançadas ao vento não podem ser mais recolhidas, mesmo após seu estrago. Muitos tentam amenizar ou negar o poder da linguagem, mas ela pode criar um ambiente inclusivo ou hostil.
O texto do Google nos lembra que “a linguagem pode ser um reflexo disso, já que as pessoas com mais poder influenciam não apenas a linguagem usada, mas como ela é usada no local de trabalho”. As palavras podem promover ciclos de desigualdade e opressão. Mas quando se está atento à linguagem, o diálogo começa a construir uma nova cultura de relações que amenizam o poder da exclusão social.
Para que isso se torne realidade, a segunda dica nos convida a avaliar as palavras que usamos. E o conselho central está em escolher com atenção essas palavras no ato de comunicar: “lembre-se de que o princípio mais importante da linguagem precisa é respeitar as escolhas e preferências alheias”.
E vale destacar que a realidade não é feita de escolhas e preferências. Ninguém escolhe orientação sexual, cor da pele ou realidade socioeconômica. Então anote a mensagem central desse tópico: escolha palavras que transbordem respeito pela realidade da outra pessoa. Diversidade e inclusão é isso: o importante é o outro e sua integralidade.
Olha e compreender
E por falar na integralidade do outro, a terceira dica é “considere sempre a interseccionalidade”. Aqui estamos falando justamente de olhar e compreender o outro em todo seu contexto: etnia, cor da pele, orientação sexual, identidade de gênero, escolaridade, local de moradia e por aí afora. É o que chamamos de marcadores que dão a tônica plural da diversidade que reúne todos os nossos contextos. Os marcadores de interseccionalidade também estão no mundo do trabalho, estão nas empresas e nas organizações.
As narrativas de comunicação interna e marketing precisam ser transformadas para que sejam verdadeiramente inclusivas, centradas nas pessoas e suas histórias e identidades. O texto nos provoca ao alertar que “se o seu marketing não for capaz de refletir a interseccionalidade, ele corre o risco de reduzir identidades multidimensionais em histórias simplificadas demais, que podem perpetuar estereótipos e ser ofensivo às pessoas a quem se destina o trabalho”. Permita que a linguagem seja uma das maiores contribuições sociais da sua empresa para uma cultura diversa, plural e inclusiva.
Uma cultura de diversidade e inclusão
Por fim, o texto do Think With Google não pode deixar de apontar o caminho cotidiano: “comprometa-se em continuar praticando” e não caia na armadilha das datas celebrativas que tem o papel de potencializar o debate, mas não se encerram em si mesmas. Decida construir uma cultura de diversidade e inclusão em sua empresa. É desafiador e exige muita transpiração e avaliação permanente das práticas e estratégias para criar comunicação e relações eficazes e saudáveis entre todas as pessoas.
E vale destacar o lembrete que o artigo do Google nos traz: “a aplicação dos princípios da linguagem precisa pode parecer complicada no início, mas é importante continuar investindo nisso, mesmo quando parecer desconfortável ou inconveniente…E não pare de aprender e investir em tornar seu local de trabalho – e o mundo em geral – mais inclusivo. As pessoas vão perceber.”
Tornar o mundo mais inclusivo é uma decisão de construir um mundo melhor. E que tal iniciar essa construção no seu micromundo? A sua empresa pode ser um espaço inspirador, sendo diverso, plural, igualitário e inclusivo. A partir da experiência cotidiana com sua organização, os seus colaboradores tornam-se agentes de transformação. Pense nisso: a sua marca pode impactar a sociedade quando está atenta à uma linguagem promotora da diversidade e inclusão. Te desejo uma boa jornada de comunicação!
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