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Depois de 13 anos à frente de uma empresa, resolvi empreender de novo. Em 54 horas, entre sexta-feira e domingo, e com “sócios” que eu nunca tinha visto antes, criei uma startup.
A Startup Weekend é um evento realizado em diversos países e idealizado pela americana Techstars. Em um fim de semana, pessoas das mais variadas origens, profissões e intenções, se reúnem com mentores para tirar uma ideia da cabeça e colocá-la em funcionamento.
O evento é organizado por voluntários e mantido por patrocinadores. Os participantes, cerca de 100 pessoas, precisam apresentar suas ideias em um pitch de menos de um minuto. As ideias mais votadas pelos participantes serão aquelas desenvolvidas pelos grupos – formados na hora e pelas pessoas interessadas em contribuir com o desenvolvimento daquela ideia.
Mas não é assim tão simples. Uma ideia que parece incrível pode se mostrar não-válida. Aquele problema apresentado pode não ser um problema real, e aí, não precisa de solução. E mais difícil ainda é fazer essa validação do problema com pessoas que você não conhece indo pra rua fazer pesquisa num sábado à tarde.
Trabalho em equipe é um dos maiores aprendizados da Startup Weekend
Se já é difícil o jogo do toma lá dá cá em sociedades e casamentos, imagina com os “sócios” que você conheceu não faz nem 12 horas! Na minha experiência pessoal, o grupo só não brigou ou não se desfez porque estávamos unidos por um mesmo propósito. Sim, aquela palavra que já estamos cansados de ouvir nos discursos de autoajuda (e que, pra mim, já tem até uma conotação negativa). No nosso caso, esse propósito era a busca por um planeta mais sustentável.
A diversidade no time era grande: de idade, de formação, de experiências. De meros desconhecidos na sexta, a uma equipe unida e focada no domingo, conseguimos tirar a ideia do zero, validar, vender e criar um modelo de negócio viável e rentável.
Aliás, a ideia ainda passou por nova validação, uma vez que a proposta original se mostrou não viável – ao ir para a rua entrevistar as personas, vimos que o problema não existia, logo, ninguém pagaria pela solução.
Apesar de desanimador, foi interessante fazer um novo brainstorming, repensar problemas que poderiam atingir as pessoas – “Qual a dor?” era a pergunta mais feita pelos mentores que nos ajudavam nessa busca. E mantendo o foco na causa ambiental e sustentável, encontramos um novo problema, validamos (95% das pessoas tinham realmente esse problema!) e pensamos em uma solução viável e que foi aceita – e validada também – pelo público.
Saindo da zona de conforto
Quando me inscrevi para participar da Startup Weekend, apesar de já ouvir falar muito desses eventos, não imaginei que fosse tão mão-na-massa e prático como é. Foi quando um dos mentores falou: “agora vão lá vender o produto!” que entendi, de fato, o que é MVP e que sem testar o mercado e o modelo de negócio não tem como querer colocar um serviço ou produto na rua.
“Ah, mas é domingo”. “Ah, mas pra quem vou vender isso?” “Mas vou cobrar de verdade?” “Mas onde vou imprimir?”. Todas as objeções que apareceram foram logo contornadas, e enquanto parte do grupo focava na apresentação para a banca de jurados, outra parte foi às ruas fazer as vendas. E vendemos!
Números e tendência de mercado validaram nosso 1º lugar na competição
Cada uma das 11 startups criadas no evento tinha quatro minutos para apresentar o modelo de negócio para uma banca de cinco juízes. Depois, mais três minutos para responder as perguntas. E só.
Tinha cada ideia legal! Empresas inovadoras, ideias disruptivas, gente que fez apresentações incríveis (os tais pitchs, como são chamadas as apresentações). Confesso que eu estava desanimada depois de ver tanta proposta interessante, tanta solução válida para problemas reais. Mas não é que os jurados gostaram da nossa proposta?
Ao idealizar um clube de descontos voltado para o consumo de alimentos naturais e orgânicos, focamos em 80% da população brasileira que afirma querer uma alimentação saudável e em 95% de pessoas que dizem que não consomem esses alimentos porque o preço é alto. Ao mesmo tempo, mostramos que o mercado de alimentação saudável deve crescer 50% no Brasil somente em 2019 e que esse mesmo mercado já movimenta US$35 bilhões de dólares ao ano.
Ainda, em apenas dois dias validando o modelo de negócio, conseguimos firmar parcerias com produtores de alimentos orgânicos e lojas da região de São José (na grande Florianópolis), dispostos a incentivar o consumo e aumentar a venda oferecendo descontos exclusivos pela nossa plataforma. E vimos que a ideia tem futuro (em breve num app perto de você 😁).
Em um fim de semana conheci pessoas engajadas e apaixonadas, mentores incríveis, prestativos e que “deram a real”. Plantei uma árvore, fiz amizades e criei uma startup. Mas o melhor de tudo isso foi a troca de experiências, figurinhas, os debates, a pressão e o convívio com pessoas tão incríveis que jamais conheceria se não topasse essa loucura de Startup Weekend.
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