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Por Rachel Sardinha, diretora da Vocali
Em 2010 “caiu” no meu colo a possibilidade de fazer a assessoria de imprensa do lançamento de um livro no Brasil. O livro era escrito por um produtor musical que trabalhou com Michael Jackson (que dispensa apresentações) e contava a história de que Michael, na verdade, foi assassinado pelos produtores da sua última turnê. O livro chamava-se “O que realmente aconteceu a Michael Jackson”, e tinha sido escrito por Leonard Rowe com aval de Joe Jackson.
Teoria da conspiração? Viagem total? Não deu nem tempo de a gente considerar as hipóteses. No mesmo dia o prospect ligou:
- Alguém da empresa fala inglês?
- Sim, a Rachel.
- Ótimo. Vamos fazer uma call agora com o Leonard Rowe, autor do livro. E Joe Jackson, pai do Michael.
E logo estava eu no Skype conversando com o pai do mito.
Dessa conversa, que serviu para fechar o contrato, até a chegada de Joe e Leonard ao Brasil, foram pouco menos de dois meses. Menos de 50 dias para traçar o planejamento de divulgação, mapear imprensa, organizar coletiva. E os americanos ainda precisavam tirar visto – a versão brasileira do livro tinha ainda que ser traduzida.
Com a ajuda de duas jornalistas que tinham uma empresa de comunicação em São Paulo (e têm ainda, a agência NoAr), montamos uma “operação de guerra”. Os sócios brasileiros do livro nunca tinham trabalhado com assessoria de imprensa, então eram muito leigos em tudo o que diz respeito a falar com a imprensa, organizar eventos, produzir releases etc. E logo percebemos que seria mais difícil do que imaginávamos: o que acreditávamos ser o principal chamariz para a imprensa – a vinda de Joe Jackson ao Brasil para lançar um livro sobre Michael – era também motivo de extrema desconfiança. “Será que esse cara vem mesmo?”
A primeira estratégia para virar o jogo foi agendar uma entrevista com a TV Globo lá mesmo nos Estados Unidos, antes de eles virem ao Brasil. Conseguimos que o Jornal da Globo conversasse com Leonard sobre o livro, e também entrevistasse Joe Jackson, que validou as teorias do autor. A reportagem foi ao ar cerca de um mês antes da chegada deles ao país, o que ajudou a afirmar para os jornalistas brasileiros que, de fato, haveria o lançamento aqui e que Joe Jackson estaria presente.
Mas garantir a presença do pai de Michael na coletiva de lançamento não foi fácil. Dois dias antes da data da coletiva ainda não tínhamos confirmações suficientes para encher a sala reservada num hotel da capital paulista. E as ligações para os jornalistas convidados não estavam dando o retorno esperado. “Mas ele já falou outras vezes que estaria no Brasil e na hora nunca vinha”.
Adotamos, então, outra jogada: fazer a cobertura fotográfica do desembarque dele no aeroporto. Chamamos um fotógrafo e, no estilo paparazzo, recebemos Joe Jackson no portão de desembarque com flashes e cliques. As fotos foram enviadas em seguida para todos os sites e portais de notícias e fofocas do país. Em menos de duas horas, as imagens da chegada de Joe Jackson no Brasil já estavam espalhadas pela internet.
Graças a essa estratégia, conseguimos levar mais de 80 jornalistas à coletiva de imprensa na manhã seguinte. De programas de variedades a noticiários, impressos, rádios e revistas, todos queriam entrevistar Joe Jackson e entender o que realmente aconteceu com Michael.
No dia anterior, ainda recebemos, no hotel, a Folha de S. Paulo e O Globo para entrevistas exclusivas com Joe e Leonard. Curiosamente, a mala de Joe foi extraviada na viagem e não chegou. Ele precisava estar no hotel para as entrevistas às 16h e, então, do aeroporto, segui com Joe e sua assistente pessoal para um shopping, onde ajudei o pai de Michael Jackson a comprar camisa e gravata para as entrevistas da tarde e para a coletiva de imprensa do dia seguinte (uma prova de que ser assessora de imprensa vai muito além de assessorar somente a mídia).
O passeio no shopping também serviu para “tirar a temperatura do público”. Até então estávamos sem saber ao certo se Joe seria bem visto pelos fãs de Michael – devido a toda a história de criação dos filhos com palmadas e surras de cinto. Mas todos que o reconheceram pediam autógrafos e para fazer fotos.
A vinda ao Brasil de Joe e Leonard rendeu mídia nacional. Foram agendadas book tours em diversas capitais, como Brasília, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Florianópolis, com a presença do autor e do pai do Rei do Pop em livrarias para autografar a obra. O resultado junto à imprensa foi altamente positivo. E junto ao público, também. Conseguimos garantir uma grande visibilidade ao livro, produto final e objetivo principal de todo o trabalho da assessoria de imprensa.
Ao final da viagem, a declaração de Leonard Rowe, que atuou com produção musical por mais de 30 anos, de que “em todos os anos de trabalho, essa tinha sido a melhor equipe de assessoria com a qual ele já tinha trabalhado”, fechou, com chave de ouro (e disco de platina!) nosso primeiro job internacional. E para mim, fica a história que até hoje conto aos amigos e nas mesas de bar de quando ajudei o pai de Michael Jackson a escolher roupas num shopping de São Paulo.
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