Por Samantha Leal, Jornalista e Coordenadora da VOCALI
Sem tempo para ler? Este artigo também está disponível em áudio, narrado pela autora, no player abaixo.
Como assessora de imprensa já vivenciei frustrações comuns à minha classe, como receber um não de um jornalista (ou o silêncio dele, o que é pior), não conseguir personagem para uma pauta que cai no seu colo, se desdobrar em mil para atender o jornalista e a pauta cair, não ter o reconhecimento do seu cliente quando a matéria vai ao ar ou é publicada, e depois de arrasar no trabalho com pautas nacionais o cliente decidir sair da agência porque quer uma assessoria maior ou localizada em um grande centro. Quem é da área sabe como são esses sentimentos.
Por muito tempo essas frustrações tomaram conta de mim a ponto de me fazer desanimar do trabalho. Muitas vezes pensei em sair, desistir. Mas o meu senso de desafio sempre me fazia voltar atrás. Mas confesso, sempre fui meio pessimista com as pautas que recebia para trabalhar.
Foi então que comecei a ler, a estudar esses sentimentos, para entender como poderia dar o melhor de mim sem sofrer com a intempéries do caminho. Comecei a desembrulhar cada palavra, sentimento e situação para descobrir o que isso significava para mim e para o outro (jornalista ou cliente).
Em primeiro lugar, me apossei de um conceito bem antigo e que eu não conhecia chamada “Jornada do Herói”. Este é um conceito de narrativa com uma jornada cíclica presente em mitos, de acordo com o antropólogo Joseph Campbell. Essa técnica foi adotada por muitos escritores e roteiristas para contar uma história. Ela também é muito utilizada em marketing digital.
A estrutura de Campbell está dividida em três seções: Partida (às vezes chamada Separação), Iniciação e Retorno. A Partida lida com o herói aspirando à sua jornada; a Iniciação contém as várias aventuras do herói ao longo de seu caminho; e o Retorno é o momento em que o herói volta à casa com o conhecimento e os poderes que adquiriu ao longo da jornada.
A Pixar, inclusive, desenvolveu um modelo de três atos com base nesse conceito. Para exemplificar, vamos pensar nesses atos no filme Procurando Nemo:
Ato1: Era uma vez, todo dia, até que um dia. Conhecemos Marlin, um peixe-palhaço que durante o ataque de uma barracuda perde sua esposa, Coral, e todos os ovinhos deles prestes a nascer, à exceção de um: Nemo. Com medo de perder seu único filho sobrevivente, Marlin torna-se um pai super-protetor e preocupado com a habilidade para nadar de Nemo, visto que a nadadeira direita dele é menor que a outra. No primeiro dia de aula, sem confiar deixar o filho apenas sob os cuidados dos professores, Marlin acaba envergonhando Nemo durante uma excursão da escola. Chateado, Nemo desobedece ao pai e sai nadando em mar aberto, sendo acidentalmente capturado por um mergulhador que o leva para Sydney. Desesperado, Marlin deixa a segurança do mundo que conhece para encontrá-lo.
Ato 2: Por causa disso, por causa disso, por causa disso. Se aventurando pelos mistérios e perigos do oceano, Marlin encontra Dory, um peixe-fêmea que se torna sua companheira de busca. Na jornada, os dois têm de passar por tubarões e atravessar uma colônia de águas-vivas que quase mata aos dois. Eles são então ajudados por Crush, uma tartaruga marinha surfista que os leva para a corrente da Austrália oriental.
Ato 3: Até que finalmente, e desde então, a moral da história é. Até que finalmente Marlin aprendeu a deixar seu medo para trás e acreditar que Nemo tinha o que era necessário para libertar Dory na rede de pesca. E desde aquele dia, Marlin deu ao seu filho Nemo o espaço necessário para que ele aprendesse por conta própria.
Agora vamos transportar para a nossa profissão:
Ato 1: O chamado para a aventura de divulgar uma determinada pauta de um cliente. Incidente incitador: a pauta, mesmo boa, não é aceita pelos jornalistas.
Ato 2: O assessor procura de todas as maneiras resolver o “problema”, refaz o texto, muda as fontes e o gancho, olha por um prisma ainda não explorado, pensa fora da caixa. Muitas vezes, uma conversa com a equipe ou alguém de fora ajuda a elucidar o caso. Às vezes, no fundo do poço, desistimos. Em outras, a busca por um novo olhar nos inspira a tentar um caminho diferente.
Ato 3: O que antes parecia impossível, dá resultado. Seja por um follow up (conversa com o jornalista de um veículo de comunicação), uma abordagem diferente ou uma mudança de percepção sua.
Esse é apenas um exemplo de como transpor a Jornada do Herói para a nossa realidade. Os exemplos poderiam ser inúmeros. A grande sacada, que aprendi neste processo, é não desistir. É desembrulhar o problema até que a solução apareça. Já passei por situações onde a ficha caia numa pausa do café ou numa conversa com a chefe. Muitas vezes, mesmo sem acreditar na pauta, eu era instigada a ir até o limite para que ela finalmente trouxesse o resultado esperado.
Parece papo de coach, mas realmente, a nossa mente tem o poder. Se acreditamos que não vai render, realmente não rende. Se recebemos aquela pauta com mau humor e pessimismo, não há como dar certo. Temos sempre que nos instigar a dar o nosso melhor, tentar todas as abordagens e caminhos. O resultado é sempre positivo.
Por isso, minha dica é: insista, busque, se exponha, não tenha medo de tentar mil vezes.
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