Por Merlim Malacoski, analista de marketing digital da VOCALI
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Eu sempre fui o que chamam de ‘criança artística’. Odalisca, árvore, cowgirl, personagem de novela das 8 (não me pergunte)… Se havia uma apresentação de dança ou teatro na escola lá estava eu.
Mas o tempo passa. Vem a faculdade, o trabalho, os boletos… e a gente acaba deixando essas coisas de lado. Eu, pelo menos, deixei.
Até 2017. Naquele ano comecei a fazer aula de gyspy flamenco (dança cigana de origem espanhola) em um grupo de dança amador e meses depois acabei nos palcos.
Mas por que diabos estou falando sobre isso aqui no blog da firma? Eu bem poderia citar os paralelos da dança e do marketing digital: os ensaios e o planejamento a longo prazo, a importância do trabalho em equipe, os desafios de improvisar…
Escolhi, no entanto, falar de expressão, empatia e de contar histórias. Elementos tão importantes não só na dança, mas em todos os aspectos da vida – inclusive na comunicação, no marketing e em qualquer outra área que você trabalhe.
Minha professora, Ale Gutierrez, sempre falou sobre a importância da expressividade. Acostumada a trabalhar a dança de maneira inclusiva e dar aulas para pessoas de diferentes idades e limitações, ela costumava reforçar que mais do que passos extremamente precisos e ausência de erros, o que realmente encanta a plateia (e também quem está dançando) é a alma da coisa, a expressão no olhar e no corpo.
Teimosa e pragmática que sou, demorei anos de ensaios e de apresentações para entender a dimensão disso. Afinal, não é sobre errar todos os passos e fingir que está tudo bem com sorriso no rosto. Mas sim sobre ouvir (e sentir) a música, sobre entender quem é a personagem que você representa naquela coreografia. É deixar que o corpo conte uma história que é feita de passos coreografados, mas também de emoções.
E isso é muito aplicável fora dos palcos ou estúdios de dança.
Com o avanço da automação, robôs realizam milhares de tarefas (e provavelmente aprenderiam em menos de um segundo o sapateado que eu levo meses), mas ainda não possuem capacidades relacionadas à empatia e determinadas emoções e manifestações artísticas. Isso abre oportunidades para profissões que necessitam dessas interações e significações que só os humanos conseguem ter, e nos faz questionar o modo como nos expressamos.
É claro que dentro das relações de trabalho, do crescimento de síndromes como a de Burnout, e outros problemas da contemporaneidade, nem sempre é fácil demonstrar empatia ou aprimorar nossa capacidade de contar histórias. Aliás, produzir cultura e arte também não é.
Mas o desafio de encantar e impactar sua plateia (seja ela qual for) existe e está diretamente ligado ao modo como você decide dançar a sua música e contar sua história.
Afinal, ao abrir das cortinas e no primeiro acorde da música tudo se resume a experiências. As suas e as de quem está do outro lado. Não importa o frio na barriga, o figurino no qual você se enfiou no último minuto, o deadline do trabalho que você fez, ou todas as coisas que deram (ou que ainda podem dar) errado apesar de todos os ensaios e planejamentos.
O que fica são as emoções que você causou, a diferença que fez para quem consome o que você produz ou apresenta, a história que você contou. E isso ecoa bem mais que os aplausos.
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